VERSOS ENFEITIÇADOS DE UM MATUTO LETRADO E CITADINO, QUE A BONDADE POPULAR CHAMA DE MINO.
Ah! menina ispilicute!
Êta, morena faceira!
Pedaço de mau caminho
essa beleza brejeira.
Sempre sinto uma gastura,
a sensação de um tombo,
um ribuiço no istombo,
quando ela passa
por mim.
Um apito no juízo,
desses de lança perfume,
cheirando a puro jasmim.
E quando ela vem dacolá,
batendo perna, passando,
na cuchia da minha calçada,
me dá uma dor danada
e uma pinicada certeira,
que deixa pra lá de frouxa,
mnha tripa gaiteira,
e minha cuca inviezada.
Uma danada tremedeira,
que dentro me faz correr
um rio de suor frio.
O que sinto por ela
sei que ela não saca,
pois vive a me dar rabissaca
mostrando o seu desprezo,
desdenhando meu olhar
qua ao seu andar
vive preso.
E quando olha pra mim,
só olha de cima pra baixo.
Nem sou cabra,
nem sou macho,
pois me desfaço e derrêto.
De novo lá tô eu preso,
sem poder desviar,
o olhar que ponho em riba,
daquele atrás tão lindo,
que passa rebolando,
que nem sino retinindo,
só faltando falar pra gente
dizendo pra ir em frente,
sempre lhe seguindo.
E toda vez que ela passa
sei que sofrer é uma sina,
pois só eu posso dizer,
a dor que fico sentindo,
quando ela desaparece,
do meu olhar fugindo,
dobrando na dobrada
daquela maldita esquina.
Aí, me sinto no canto,
pobre, véi, espremido,
como se o maior
dos mau olhado
tivessem me botado,
um quebranto tinindo.
Mas, isso é pra aprender.
Com certeza, sei disso.
Pra só desejar comer,
minhoca que cabe,
na bitola do meu bico.
E deixar de ser abestado,
assim, do jeito que fico,
babaca, bancando o ciço,
toda vez que uma diaba dessa,
me escraviza na beleza
e me prende no seu viço.
Mas, podem ter certeza,
que deixar de ser
desse jeito,
será agora meu lema.
Se não der bola pra mim,
nem tiver de mim afim,
dela eu quero é distância,
milha, quilômetro e légua.
Me chame de fi duma égua
se de agora em diante,
eu não for assim.
FONTE: Diário do Nordeste, 30/08/08.
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